Li: "Prefiro-te a ti. Podia preferi-lo a ele. Mas prefiro-te com tudo o que
não me dás. Prefiro pertencer-te quando te escondes nessa tua ausência
honesta, do que pertencer-lhe em cada lamuria. Prefiro-te porque me
abraças com tudo o que poderias sentir. Prefiro-te porque não somos
sempre o mesmo. Prefiro-te porque a nossa história se altera em cada
viragem, mas o que sentimos permanece intacto. Pertencer-te em cada
mistério é pertencer-te por inteiro. Prefiro-te porque não te entendo.
Nem quero. Entender alguém é perder a vontade de amar, já que amar
alguém é ter vontade de entender. Prefiro-te pelo que somos calados.
Prefiro-te porque não preciso de nenhuma palavra para que te expliques.
Prefiro-te porque sabes que, sendo livre, sou tua. Porque me esperas
sempre, a cada pôr do sol. Prefiro-te porque uns dias te mostras mais do
que outros. Prefiro-te porque nos entregamos a cada canção, enquanto os
nossos corações dançam em silêncio. Prefiro-te pela poesia que somos a
cada verso que fica por dizer. Prefiro-te a cada refrão do que passámos.
Prefiro-te porque sei onde te encontrar. Prefiro-te, minha noite.
Porque haveria eu de preferir outro alguém, se na tua escuridão
encontrei o meu brilho? Anoiteces-me. À noite, és-me…"
de Gonçalo S. Neves
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