10 março, 2018

"... Não entres se for tua intenção deixar a porta aberta para saíres logo à primeira dificuldade. Não entres se não trouxeres a eternidade nos braços e a coragem e o atrevimento de quem quer muito ficar. Não tentes sequer entrar se estiveres com pressa, se te faltar paciência, ou se só quiseres experimentar. Não digo que não pudesse ser divertido ou que não tivéssemos bons momentos um com o outro, mas o meu coração pede-me muito mais que isso. O desejo que o meu corpo possa sentir é uma migalha quando comparado à necessidade da minha alma. E ela pede-me um para sempre que ainda ninguém foi capaz de me dar. A efemeridade de um momento de prazer, por melhor que ele seja, é demasiado curta para o tamanho da minha vontade. Não renuncio à turbulência de uma paixão, mas neste momento priorizo a calma de um amor. Não entres na minha vida se não te sentires capaz de me dar muito mais do que tudo o que és. Perdoa-me, desde já, se te exijo demasiado, mas pensa que se calhar o teu demasiado é o meu mínimo suficiente. As pessoas incompletas a quem me entreguei por inteiro mostraram-me que aceitar um bocadinho menos de tudo é o começo para ficar sem nada. E de nada já está o meu passado cheio. Talvez tenha feito escolhas menos acertadas, talvez tenha dado demasiada voz ao coração e tenha ignorado demasiadas vezes a razão, mas tenha eu errado ou não, há lições que já não consigo desaprender. E uma delas foi que, enquanto me contentar com pouco, nunca terei muito. Tu, que ainda hás-de vir, se vieres, não tens culpa dos erros de quem veio antes. Por isso, não vou, nem posso, pedir-te que venhas compor o que estragaram, mas vou exigir-te que faças valer a pena a oportunidade que te darei. Tal como eu irei justificar cada esforço que faças pelo meu amor. Não te conheço, mas se não acreditas que não és capaz de ser tudo o que me falta, então deixa-te ficar onde estás e poupa-nos a uma enorme perda de tempo e atenção. Se não vai dar em nada, então que nunca passe disso também. Além de tudo isto, devo dizer-te ainda que não irei à tua procura, mas prometo não fugir de ti. Estarei aqui, no cantinho da minha vida, com a esperança que ela tenha a gentileza de nos apresentar. Sim, tenho esperança, mas não espero nada. Não conto com nada porque ela não me deve nada. Essa história do destino é muito bonita, mas só serve para embalar os que não se querem culpar pelas más escolhas que hão-de fazer. Vem ter comigo. Seja eu quem for, sejas tu quem fores. Lê esta minha carta e vem ter comigo que eu irei receber-te de braços abertos se também abertos trouxeres os teus. Vem ser tudo o que eu preciso, pois agora tudo o que quero é ter o que preciso. Vem cuidar de mim como nunca ninguém soube, guardar-me e valorizar-me como mais ninguém foi capaz e entregar-te por completo como mais ninguém quis. Sabes, é muito estranho sentir a tua falta quando nem sequer sei se existes. Consegues fazer-me acreditar que, afinal, a falta do que nunca tive é maior do que a falta do que deixei de ter. Quero muito conhecer-te, mas só depois de leres estas palavras e teres a profunda convicção que serás fiél a elas. Não te espero, mas espero que não te demores."
Todos os dias são para sempre, de Raul Minh'alma

1 comentário:

disse...

um excerto encantador:)