01 setembro, 2016

(Pensava eu) que era de olhos fechados que melhor te via: quando não havia mundo além da ideia de ti, quando estavas só onde te imaginava, por perto. (Achava eu) que havia qualquer coisa de curioso na forma como a realidade não te tocava, apenas se aproximava em passos de lã e se afastava de novo, como espuma do mar, temendo molhar as pontas do eu fato de matéria de sonho meu. Mas quando abro os olhos e a luz entra, continuas onde te deixei antes de os fechar, ainda mais perto, real como nunca antes, ao alcance de uma palavra minha. Talvez sejas feito de ilhar, e só se chega a ti de barco; e eu ainda não sei bem remar, mas olha para mim enquanto tento. Gosto que olhes para mim enquanto tento. É nesses momentos, nos que a realidade te abraça - e me prova a mim que não te sonhei - que eu tenho a certeza que o que te move não é uma mistura de convicções e vontades, mas palavras bonitas, como Sol e Reflexo, e poesia que não é escrita. Não és feito de coisas humanas, bem sei, mas de nomes de terras por visitar, uma mistura de caminhos, viagens, poemas e maracujás. Gosto de ti, e gosto do que sou quando estou a gostar de ti, asas e raízes, daquele jeito que julguei impossível, ficar-partindo, permanecer-voando, metade pássaro para metade planta. E gosto (sobretudo) de descobrir que é de olhos aberto que melhor te vejo, como tudo o que de real merece ser visto, bem de perto."

1 comentário:

Ellen disse...

Captas-me a atenção toda, todinha, cada vez que escreves algo.