Ainda tremo quando te recordo. Não sei o que foi pior, se não
ver que tentaste ser o melhor do mundo ou deixar que o orgulho se apoderasse
na minha forma de lidar contigo. Foste embora, e eu ainda tremo. Tanto tu como
eu, sabemos que nem tu nem a mãe foram os pais que todas as meninas queriam
ter, mas... De qualquer maneira, não
podia ter pedido melhor. Nada me faltou durante todos estes anos, de perto ou
de longe. Aprendi a lidar com os teus vai e vens, e no meio de tanta ida e de
tanto regresso, sempre deixavas uma lição, um conselho, uma voz levantada ou,
até mesmo, um pedido. A tua preocupação sempre foi fazer-me acreditar que nada
temos se não lutarmos. E agora, sim, eu sei muito bem do que me dizias. Acolhi-te no meu abraço. Vi-te a olhar-me de cima a abaixo,
e do sorriso que deste à avó. Senti que sentias orgulho do que estavas vendo.
Dei-te o meu beijo: o teu, o nosso. Deste-me a mão, e senti a grossura
dos teus dedos nos meus, como em criança. Não me deixaste chorar, não me
deixaste falar. E foi assim durante muito tempo, durante muitos momentos.
Porque o sentido do momento era-nos sempre muito mais importante do que meia
dúzia de palavras. Todas as tuas últimas promessas foram cumpridas, o que eu
pensara que não. Não me deste mais porque não pudeste – e, porque, muitas
vezes, o teu, e o meu, orgulho também não deixou. Contigo, aprendi a andar de bicicleta e a ganhar as corridas
aos rapazes. Ensinaste-me a passar o batom vermelho da mãe para disfarçar os
arranhões nos joelhos - o que funcionou muitas vezes. Ensinaste-me a jogar
bowling, a construir as minhas casinhas, e brincar às pedrinhas. Levaste-me a
um campo de golfe e “roubámos” umas bolas por lá perdidas. Saíamos de casa sem
a mãe saber para irmos comer pizza, e davas sempre a volta à mãe para ela não
ralhar. Ao contrário da mãe, ensinaste-me que os meninos maus não existiam, mas
que não deveria ser amiga de nenhum. Tudo isso porque fazias questão de dizer
que eu era a tua menina, de mais ninguém. Qualquer que fosse o momento, estavas
lá. Entretanto, eu crescia e criava uma barreira. Isso, porque a mágoa ainda
estava pesada... doía. Ralhaste-me muitas vezes, e tentaste ser o pai que nunca
foste. Posto isso, sempre foste o meu preferido. E as boas memórias também
foram vividas a teu lado, contigo do meu. Estou tentando não esquecer: não
esquecer o teu olhar, o teu cheiro, a tua voz. Tudo isso lembra-me que
partiste, mas sei que deixaste o melhor de ti um pouco por tudo o lado. Passam
trezentas e sessenta horas sem te ver, e peço que não venha nenhuma para eu te
esquecer. Descansa em paz.
15 comentários:
os meus sentimentos. O importante é preservar as boas memorias!
Bjxxx
" Passam trezentas e sessenta horas sem te ver, e peço que não venha nenhuma para eu te esquecer. " Sublime querida!
Um beijinho grande
Que texto tão emotivo. Eu própria tremi.
Que palavras lindas, adorei !
with love, KATE ❤
Guarda sempre as coisas boas!
Bjxxx
Que palavras lindas... muita força minha querida!
r: Está tudo bem sim querida, estive só um pouco ausente daqui. Mas obrigada pela preocupação :)
obrigada pelo comentário e pelo elogio <3
viste-me por lá? :p
wow isto está incrível, mesmo emocionante
www.pinkie-love-forever.blogspot.com
r: também espero conseguir conhecer-te um dia eheh :D
www.pinkie-love-forever.blogspot.com
Muita força.
http://quase-italiana.blogspot.pt/
Fiquei muito comovida com o texto, também já não tenho o meu pai e revejo-me nas tuas palavras.
Beijinhos querida
http://virginiaferreira91.blogspot.pt/
r: Concordo, mas por um lado ainda compreendo a situação. Eles têm de cumprir datas para conseguirem tratar dos exames nacionais. Ao permitirem multas é uma forma de controlar isso :/
r; não querida, foi inspirado numa série :)
http://quase-italiana.blogspot.pt/
r: muito obrigada querida, mesmo :)
http://quase-italiana.blogspot.com/
O teu texto está lindo, até me emocionei :)
Beijinhos
http://universodamarta.blogspot.pt
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